quarta-feira, novembro 22, 2017

Acidente nuclear russo: os perigos do ruténio-106 (7 imagens)

No dia 6 de outubro os duas instituições europeias, na França e na Alemanha, detetaram a nos céus da Europa a concentração centenas de vezes superior ao normal do ruténio-106 e até apontaram a localização exata da sua fonte – sul dos montes Urais na Rússia, não descartando, de tudo, as outras regiões russas.

O aviso foi dado pelo Instituto de Segurança Nuclear e de Radiação da França (IRSN) e o pelo Escritório Federal alemão de Proteção contra Radiação (Bundesamt für Strahlenschutz), informa a televisão russa tvrain.ru  
O mapa do IRSN, que mostra a concentração do ruténio-106 no ar na Europa
no período entre 27 de setembro e 13 de outubro
As entidades oficiais russas negaram que são responsáveis pelo acidente, assim, no dia 11 de outubro a imprensa russa, citando a corporação estatal russa de energia nuclear «Rosatom» afirmou que a fonte de contaminação radioativa esteja “num dos países do leste da União Europeia”.
A chegada do combustível nuclear usado na fábrica Maydak em 19 de setembro de 2017
(a foto foi publicada em 6 de outubro)
No entanto, a ativista russa dos direitos humanos, Nadezhda Kutepova, que recentemente recebeu o asilo político na França após ser acusada de espionagem pelo canal estatal televisivo russo “Rossiya”, apontou como a possível fonte de contaminação a fábrica RT-1 “Mayak” de reprocessamento de combustível nuclear usado, parte da “Rosatom”, localizada na cidade fechada de Ozersk. Supondo que o incidente poderia ocorrer entre os dias 24-25 de setembro, pois naquela momento a fábrica recebeu os contentores e combustível de um novo tipo.
O momento do descarregamento do novo contentor 
O vice-governador da região de Chelyabinsk, Oleg Klimov, confirmou: “encontramos o ruténio, sabemos com certeza” e que o seu governo regional realizará a reunião com especialistas da “Rosatom” e os funcionários da fábrica. “A dose do ruténio é absolutamente insignificante”, — assegura Klimov, jurando que o seu aparecimento não está relacionado com o funcionamento de “Mayak” e outras empresas localizadas na região de Chelyabinsk.
Fábrica "Mayak" na cidade de Ozersk, ex-Chelyabinsk-65, palco do acidente nuclear soviético de setembro de 1957
No entanto, no seu boletim de setembro de 2017, publicado em 20 de novembro, um outro organismo estatal russo, Rosgydromet nota que as concentrações mais significativas de ruténio-106 foram encontradas nas aldeias nos arredores da fábrica “Mayak”. Rosgydromet também reconheceu que, no final de setembro e no início de outubro de 2017, foram surgindo as condições atmosféricas da transferência ativa de massas de ar e dos poluentes do território dos Urais do Sul para a região do Mediterrâneo e para o norte da Europa.
Funcionário da fábrica Maydak | foto @RIAN
Após a divulgação do relatório, a Greenpeace Rússia prometeu enviar a carta ao Ministério Público russo com um pedido de verificação do possível encobrimento de um acidente nuclear. Segundo os ecologistas, a liberação de rutênio-106 poderia estar associada à vitrificação do combustível nuclear usado.

Em jeito de resposta, no dia 21 de novembro, Rosgydromet assegurou que a concentração de rutênio-106 não representava uma ameaça para a população. Quando perguntado se eles procuram a fonte de contaminação, o organismo respondeu: “Para que procurar quando não há perigo?” No mesmo dia 21 de novembro a instituição de pesquisa russa “Typhoon”, parte do Rosgydromet, informou da ocorrência na região russa de Bashkiria da primeira chuva contaminada pelo ruténio-106. O organismo explicou que a sua presença na atmosfera indica, como regra, uma libertação acidental [dado que ruténio não se encontra na natureza e é um produto da fissão de núcleos de urânio e plutónio nos locais onde ocorre uma reação em cadeia – em reatores de estações de energia nuclear, submarinos, bem como na explosão de bombas atómicas].
Um dos locais de zona de exclusão radioativa na região de Chelyabinsk,
resultado do acidente nuclear de 1957
Como explica o especialista do programa da segurança nuclear e radiológica da União Socioecológica Internacional, Andrei Ozharovsky, os factos do boletim de Rosgydromet mostraram que nos meados de outubro “Rosatom” forneceu ao público as informações incorretas. “O relatório de Rosgydromet diz que, no território da Rússia foi notado um excesso significativo de ruténio radioativo. [...] Ou seja, com uma taxa normal de 10 [unidades], foram registadas 1.500. O horror é que ninguém sabe da onde o isótopo radioativo veio à atmosfera. Este é um radionuclídeo artificial, não pode aparecer por razões naturais. Talvez tenha havido um acidente em algum lugar, como costuma acontecer”, diz Ozharovsky. Ao mesmo tempo, ele observou não é clara a origem do acidente, porque na Rússia existem várias fábricas envolvidas na produção do ruténio, inclusive nas cidades de Obninsk e Dimitrovgrad. A fonte também pode ser a fábrica “Mayak”, porque eles trabalham com o tipo o mais perigoso de resíduos nucleares, o combustível nuclear gasto, que contém ruténio.

Fotos Maxim Mirovich | Texto htvrain.ru

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