quinta-feira, março 15, 2018

Carlos, o “controlador aéreo espanhol”: burlão ao serviço da propaganda russa

«Controlador aéreo Carlos», que acusou Ucrânia no caso de derrube do Boeing-777 do voo MH-17, escrevendo no twitter sob a conta @spainbuca se chama Jose Carlos Barrios Sanchez, é um pequeno burlão espanhol, condenado na Espanha e detido na Roménia devido à fraude financeira. Os seus passos foram seguidos numa investigação conjunta de Rádio Liberdade e dos jornalistas romenos da RISE Project.
Os restos do Boeing-777 do voo MH17. Foto Zurab Dzhmakadze | TASS | Scanpix | LETA (18/06/2014)
Em 17 de julho de 2014, o voo MH17 da Malaysia Airlines foi derrubado sobre o território ocupado pelos separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia, matando todas as 298 pessoas a bordo. Imediatamente após a tragédia, a conta @spainbuca no twitter começou dizer que assistiu os eventos à partir de uma torre de controlo de tráfego aéreo no aeroporto de Boryspil de Kyiv. Era uma série de afirmações dramáticas sugerindo que Ucrânia tinha abatido avião e estava tentando encobrir o sucedido.
Uma reivindicação em particular foi divulgada em meios de comunicação estatais russos e no Twitter: que dois aviões de combate ucranianos haviam voado perto do Boeing 777 pouco antes deste desaparecer do radar.
Os tweets do @spainbuca
Naturalmente, as pessoas razoavelmente sérias começaram questionar essas afirmações que abalaram a credibilidade do @spainbuca. Como e por que razão um controlador de tráfego aéreo de nacionalidade espanhola trabalharia em Kyiv? Será que existe algum país do mundo que emprega os controladores de tráfego aéreo de nacionalidade estrangeira? Existem alguns relatórios sérios e independentes (dados de radar, por exemplo) corroborando as suas reivindicações?

A investigação conjunta da Rádio Liberdade e do RISE Project revelam quem é o ex-condenado espanhol, um pequeno burlão madrilenho, detido pela polícia romena por fraude em agosto de 2013.

Em agosto de 2013, o cidadão espanhol Carlos Sanchez foi detido no aeroporto de Bucareste. Sob promessa de ajudar na obtenção de trabalho na companhia aérea espanhola Iberia, ele pediu dinheiro aos, pelo menos, 8 cidadãos romenos (entre 70 à 130 Euros por pessoa). A justiça romena abriu, contra o espanhol, o caso criminal de fraude.
Uma das vítimas romenas acusa Jose Carlos Barrios de ser um ladrão
No decurso da investigação romena ficou claro que Espanha já tinha colocado este homem na lista dos procurados em toda a Europa. Na Espanha, Sanchez estava sob suspeita de falsificação e desvio de propriedade. Os jornalistas compararam a foto do “controlador aéreo espanhol Carlos”, que deu uma entrevista à edição espanhola do canal propagandista russa RT en Español e perceberam que era a mesma pessoa. A fotografia de Jose Carlos Barrios Sanchez foi anexada aos documentos do seu processo-crime na Roménia. Sanchez também foi identificado por uma mulher que lhe deu dinheiro no aeroporto de Bucareste e por uma uma fonte judicial romena que participou do interrogatório do espanhol.
Carlos na entrevista ao RT en Español @screanpics da RT
Na Espanha Sanchez era presidente da cooperativa de habitação em Alcorcón (sul de Madrid). Ele se apropriou do montante de alguns milhares de euros, pertencente à cooperativa, mas acabou por devolver o dinheiro. Em outubro de 2010, um tribunal em Madrid o condenou aos seis meses de prisão. As autoridades romenas decidiram extraditar Sanchez para a Espanha, após a extradição, este serviu lá a sua pena prisional.

Em março de 2015, já após o abate do MH17 pelos terroristas russos, Sanchez novamente foi visto em Bucareste e em Madrid. Os jornalistas contataram Sanchez em setembro de 2017, através da página Expat.com. Ele contou que a sua conta no Twitter foi bloqueada “por razões de segurança”, alegadamente, conforme indicado na carta que lhe foi enviada pela administração do site. Depois disso, ele decidiu excluir a conta.
Jose Sanchez à participar num programa culinário da TV romena
Anteriormente, no final de 2014, a conta de Sanchez funcionava, mantida por uma certa Lyudmila Lopatyshkina. Tal como o “controlador aéreo Carlos”, ela lutava contra a “junta ucraniana” e divulgava as tweets das contras pró-Kremlin, misturada-s com tweets sem sentido (“sem medo-olhando”, “pintarei o céu”, “em 37 recebeu ele”), o que evidenciava de que a Sra. Lopatyshkina é um ro(bot) da Internet.

Nas cartas e no seu perfil de Facebook, Sanchez mencionava que trabalhou para a holding aéreo International Airlines Group, com sede em Londres. O representante da empresa disse aos jornalistas que uma pessoa com esse nome nunca trabalhou para eles. Também não o reconheceram numa outra empresa, onde ele supostamente trabalhou – SkyTeam.
Na conversa com jornalistas, o “controlador” disse que “alguns grupos e organizações querem prejudicá-lo”, ele tem confirmações de áudio e vídeo sobre isso. No entanto, aos jornalistas não conseguiu apresentar nenhuma prova do que disse. Sanchez também tentou extorquir dinheiro aos jornalistas, depois disso, marcou uma reunião em um dos centros comerciais de Bucareste e simplesmente desapareceu.

Na conversa telefónica com os jornalistas, Carlos Sanchez confirmou que estava preso na Espanha, mas disse que foi devido ao não-pagamento da pensão alimentícia. Ele também admitiu que nunca tinha trabalhado como controlador aéreo e não estava na Ucrânia durante o abate do MH17 sobre a região de Donbas.

Carlos afirmou que recebeu “enormes somas de dinheiro”, que foram lhe transferidas da Rússia. Em troca, ele teve que escrever, o que lhe diziam na sua conta no Twitter. Segundo Sanchez, ele recebia as remessas do dinheiro da RT muito antes de sua entrevista televisiva em maio de 2015 – alegadamente como a compensação pelo que escrevia no Twitter. No total, o espanhol afirmou, receber da Rússia o montante de 48.000 dólares.

A representante da RT nega que o canal pagava ao Sanchez.
Local da queda do voo MH14 em 25/06/2014. Foto @Bulent Kilic AFP PHOTO | MEDIAFAX
Em 17 de julho de 2014, no dia do derrube do Boeing MH17, usuário @spainbuca publicou um tweet: «As aeronaves militares voaram perto de 777 três minutos antes de desaparecer do radar, apenas três minutos». Mas o “controlador espanhol Carlos” se tornou famoso mais de um mês antes, em 9 de maio de 2014, quando o canal propagandista russo RT dedicou-lhe um texto inteiro na sua página. Uma fotografia com uma face superior oculta foi anexada ao texto. O homem que foi chamado de controlador aéreo Carlos do aeroporto de Boryspil, contou que tive que fugir para Espanha, após trabalhar na Ucrânia por 5 anos, ameaçado pela sua posição “anti-ucraniana”. Carlos contava que após a vitória do movimento Maydan: “meus colegas não só pretendem denunciar às autoridades de que eu estava expressando o meu ponto de vista, eles pediam que um batalhão inteiro (Sic!) fosse enviado ter comigo, para que me deportassem fora do país, para que eu seja morto”.
Jose Carlos visto em público em Bucareste em abril de 2015 
A página RT foi a primeira à publicar a alegação do “controlador aéreo espanhol” sobre aeronaves militares alegadamente ucranianas que alegadamente perseguiram “Boeing”. Depois disso o falso boato foi difundido pelo canal “Rossija-24”, agências “RIA Novosti”, TASS, “1º Canal”, NTV, entre outros. O caso também foi referido pelo vice-ministro da Defesa da Rússia, Anatoly Antonov (atualmente o embaixador da Rússia nos Estados Unidos) e pelo presidente russo, Vladimir Putin, no livro propagandista de Oliver Stone (a cena foi retirada do filme de Stone, montado na base das suas entrevistas com Putin, mas entrou no livro, lançado simultaneamente com o filme).

Blogueiro: sem entrar no campo incerto das teorias de conspiração, mas a entrevista com um grande destaque no canal RT, mais de um mês antes do abate do voo MH17 só pode indicar uma coisa: o abate, de uma aeronave sob os céus da Ucrânia foi programado, pela alta liderança russa, com uma certa antecedência...

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